Quem deixa de viver o momento perde o melhor da história, e de tantos momentos maravilhosos se perde a memória, até que alguém o realça. E isso aconteceu aqui no Guarujá, com a Mara, mãe de meu filho Isaac.
Noite linda, lua crescendo, não podia deixar de falar para a Mara para irmos para a praia, não tem como deixar de viver estes momentos. E sentados na areia, olhando as estrelas, o mar, suas ondas, seu som único de choque das águas… Ela, disse:
– Lembra àquela noite no Senegal, África, acho que Saint Louis, quando a gente ficou na praia vendo as estrelas e começou a aparecer muitas estrelas cadentes?
– Mais ou menos, lembro qualquer coisa.
– Eram tantas… eu comecei a contar e parei na número onze, pois cansei.
E pouco a pouco minha memória foi se restabelecendo daquele momento, aquela noite na praia de um país tão pouco conhecido pelos brasileiros. Aqueles momentos se passaram em 2002. A Mara estava comigo em minha primeira viagem a África, e juntos descobrimos muitas coisas. Eu lembro muito daquela viagem, mas ela lembra muito mais… mulheres são muito mais detalhistas.
E lembrei que ficamos deitados na areia, apenas nos maravilhando com o espetáculo que os Céus nos proporcionava. Uma chuva infindável de estrelas cadentes.
Naquele momento me veio tudo o que nós vivemos naquela cidade. Como esquecer Saint Louis, a cidade que cheirava mal, os contrastes fortes que existe na África subsaariana, e a Mara, aquela mulher toda sofisticada vivendo e adorando tudo aquilo que fora novo em sua vida…
Eu estava numa rodovia do Senegal entre Matam e Linguère a uns 120 km da Mauritânia. Neste trecho a estrada é boa, pavimento novo. A paisagem é magnífica, uma longa tangente rodoviária na solidão aberta e silenciosa da imensidão nivelada silto arenosa, parquíssima vegetação gramínea e altivas árvores esparsas frondosas e robustas, paraíso de raposas e animais notívagos. Até aí tudo bem, mas há um contraste entre a robustez da estrada e solitários flagelados que choram sozinhos à beira dela. O súbito, ilustre e fugaz visitante na sua pick-up suntuosa é um script secularista, não necessariamente que o visitante seja secularista. A verdade pode estar paradoxalmente na simplicidade de vida daqueles flagelados que de pés no chão perderam esta vida transitória, como a estrada, para ganhar outra definitiva que o mundo secularista subestima e debocha…:)