Duas cidades que gosto de vez em quando visitar. Uma é a que nasci, São Paulo, sempre me causa um impacto observá-la. O temor que causa a todos que ali chegam. Uma cidade rara no mundo, onde a vista foi feita por mãos humanas. A outra é São Luiz do Paraitinga (Paraitinga = água branca do mar), também no estado de São Paulo.
São Luiz é uma cidade pequena, uns 10 mil habitantes, moramos aqui por um ano e meio, ano 2006/2007, num Sítio a 14 km do centro, local paradisíaco, mas também gelado, pois situa-se a 1.170 metros de altitude. No inverno suportamos um grau negativo.
É estranho como uma cidade pequena pode agradar a tantas pessoas.
No passado, seus habitantes, todos muito humildes, se sentiam ofendidos, pois uma matéria do Fantástico da Rede Globo, na década de 90 do século passado, a qualificou como a cidade mais caipira do estado de São Paulo, e digo que era. Isso se deu muito devido a dificuldade de acesso, onde fazia com que ela se isola-se do estado.
Contam que SLP era tão caipira que certa vez chegou um forasteiro na cidade e perguntou a um homem que estava sentado na praça:
– O senhor é daqui de São Luis do Paraitinga?
– Sou sim senhor, eu sou o “Perfeito” da cidade.
Como o homem era meio habilidoso com o português percebeu o que o nobre morador queria dizer, e prosseguiu:
– Ahhh, o senhor é o Prefeito da cidade?
– “Prefeitamente”, eu sou o “Perfeito” da cidade!
O grande cineasta brasileiro, o Mazzaropi, teve vários de seus filmes aqui filmados, bem como músicas do grande compositor da cidade, Elpídio dos Santos. Dizem que o Jéca, personagem do Mazzaropi, era baseado num luizense… vai saber!
Hoje, SLP é nacionalmente conhecida, em parte por causa da enchente que teve anos atrás, a qual derrubou a Igreja matriz. Em imagens o Brasil acompanhou a cidade ficando baixo d’água, e sua igreja histórica tombando. Já era tombada, mas pelo patrimônio histórico. SLP é a Paraty do estado de São Paulo, por causa de suas preservadas construções coloniais.
Na enchente, a solidariedade nacional e regional impressionou a muitos. Bem como a devoção, em sua maioria de católicos praticantes, uniu-se. Não houve um único morto numa tragédia que poderia haver dezenas. Até os cachorros eram socorridos nos botes de heróis (turma do rafting) que saiam para salvar vidas.
Criou-se até o “Shopping Enchente”, de tanta doação que receberam, e todos puderam refazer suas casas.
Daí também foi um exemplo em como se levanta uma cidade, pois passado três anos a cidade está nova, refeita, mais bonita, com suas casas coloniais em pé novamente. Somente a igreja matriz ainda está em reconstrução, mas isso se deve aos detalhes de sua obra, afinal é uma Igreja construída no século XIX.
SLP é também conhecida, e talvez, muito conhecida pelo carnaval de marchinhas – único no estado de São Paulo. – Aqui se manteve as tradições deste estilo de carnaval de rua. Certo que cada dia mais está ficando sofisticado, haja vista que, este ano calcula-se que mais de 150 mil foliões vieram passar o carnaval. Agora tem até trio elétrico e grandes empresas patrocinando.
Contam que décadas atrás, o Padre proibiu o carnaval na cidade, porém algumas pessoas começaram a escrever e cantar músicas (marchinhas) em protesto… Dos protestos surgiu esse grande carnaval.
Aqui também foi onde nasceu Oswaldo Cruz, o famoso médico sanitarista do Brasil.
SLP situa-se já próximo da divisa com o Rio de Janeiro. Por causa disso, na revolução de 32, foi local de constantes deslocamentos de tropas do exército constitucionalista, e dizem que houve vários combates em seus campos.
Enfim, uma cidade tão pequena e tão marcante. Onde tenho amigos/irmãos, o MiniZen leva com muito orgulho na sua placa o nome da cidade, onde a lembrança do Thor, Melissa e Maika se fazem sempre presentes. E com enorme satisfação posso dizer que tenho duas raízes no Brasil, em São Paulo: Uma na mais desenvolvida, a cidade de São Paulo, e outra na mais caipira, São Luis do Paraitinga.
ser caipira não é motivo de vergonha, e sim de orgulho, é o ser humano mais puro!
E não é bobo como alguns pensam!